Sunday, February 26, 2006

Oh, a coisa mais gira que existe é abrir um Jornal qualquer e ver uma senhora doutôra a dizer que nesta semana terei que investir nas minhas relações amorosas ou que terei óptimas oportunidades para a vida profissional. Sim, claro, porque de certeza que todas as pessoas do meu signo terão iguais oportunidades e passarão todas pelos mesmos problemas, até porque é muito comum haver senhores leoninos em Bangladesh com preocupações sobre o que haverão de fazer com a vida amorosa.

Mas de que a astrologia é uma fantochada, ninguém tem dúvidas, certo?

Para a desgraça de muitos e feilcida de outros, a astrologia e a astronomia um dia foram uma só "ciência". Costumamos passar o ônus da responsabilidade dos nossos problemas àquilo que desconhecemos, porque assim dá muito mais jeito, claro, visto que não podemos mudar o que está fora do nosso alcance e sendo assim mais vale não fazer nada, o que é sempre mais confortável do que o oposto. E o facto é que a culpa tem sempre sido das estrlas, é o desconhecido mais conhecido que possuímos (adoro os meus oxímoros forçados), e visto que há tantos gajos que passaram a vida a estudar cada um daqueles pontinhos brilhantes, até conseguimos inventar algumas histórias que até têm uma certa piada e no fim até fica uma coisinha poética, estética, que até faz sentido aos olhos daqueles que procuram uma forma de não ter que resolver os próprios problemas... AHA! (ou se calhar estou enganado e o digo só porque nesta semana a minha constelação se alinhou com uma outra e conspirou para que eu pensasse assim)

Isto lembra-me da famosa história do Oráculo Persa. Antes dos Persas invadirem a Grécia, o grande Líder (digo líder porque não me lembro do termo pra substituir Rei na tradição persa, e digo grande só mesmo por uma questão de ironia) consultou um dos seus oráculos para saber o que o futuro lhe reservava. A resposta foi bastante óbvia: "Um grande império irá cair"

d'uh,

e o império persa caiu.

Obviamente que havia alguns seres que saíam da monotonia das razões supremas e dos mecanismos universais com vontade própria e se limitavam a desenvolver modelos que conseguissem descrever o comportamento dos astros de forma lógica e cheia de padrões... A maior parte deles não tinham a pompa do Dr. Aristóteles e habitavam a linda ilha Jónica. A maior parte dos desenvolvimentos deste povo foi perdido quando os catholics deram cabo da biblioteca de alexandria e alguns axiomas só feitos no século XVII já tinham sido descobertos por eles 2 milénios antes.

(E depois há gente que ainda tem que invocar a lenda de Atlantida pra ter argumentos retrogressistas relativamente ao desenvolvimento da humanidade)


Hmm
e depois da idade média


vieram alguns senhores, nomeadamente Kepler, Galileu, Copernico, Giordano Bruno, Halley (etc.. etc.. etc...) que decidiram transformar a filosofia natural em física e fazer observações sem que fosse com o intuito de dizer aos reis preguiçosos na Europa o que haveriam de fazer...

A primeira abordagem matemática do problema das órbitas foi proposta por kepler (lei tão exacta que continuamos a estuda-la no secundário 3 séculos depois), e a ironia é que as observações na qual ele se baseou foram feitas por Tycho Brahe, que era o astrónomo (lê-se astrólogo que se tava a cagar pra astrologia) da corte dinamarquesa.

Depois disso,

veio um senhor chamado Isaac Newton, que inventou o cálculo diferencial (derivadas, primitivas, integrais, coisinhas fofas dessas), disse que quando faço força em algo essa coisa acelera, também disse que se eu der uma cabeçada na parede, a minha cabeça vai sentir tanta dor quanto a da parede e também disse q se eu empurrar algo e não houver nada a fazer atrito, isso vai seguir em movimento...

(damn, e por causa disso é tão famoso.. ¬_¬)

mas o que lhe deu a grande glória não foi isso, mas foi dizer q:

F= ma, F_ab = - F_ba, dv = 0 se F = 0

Basicamente o mesmo que está escrito ali, só q na língua universal da matemática.

Neste ponto os astrólogos já se sentiam mais contentes, visto que assim não precisavam de olhar para os telescópios para saber os trânsitos dos planetas, bastava aplicar alguns cálculos e voilá (sim, a partir daquelas 3 equações consegue-se fazer tudo)...

O irónico é que hoje todos os astrônomos hoje viraram físicos, a astronomia é feita por astrônomos amadores [ hoje qualquer um pode ter uma estrela com o seu nome, basta descobri-la x'D ] e os astrólogos já não sabem nada sobre astronomia!
Aliás, hoje para ser um astrólogo basta saber sobre tendências de mercado (sim, porque num mês onde há alta do preço dos barris de petróleo, obviamente que é fácil deduzir os ânimos alheios), com uma pitada de conhecimentos políticos e a retórica vaga e subjectiva que se assemelham mais a conselhos do que previsões.


E ainda hoje há quem confie mais na Maya (ou Maia, lá sei eu) do que nos físicos quando estes dizerm que o universo tem 11 dimensões espaço-temporiais (claro que o facto do universo possuir 11 dimensões é um facto mais que óbvio e perceptível [adoro a minha ironia-sobre-ironia]).

E ontem, quando uma nobre alma soube que eu tinha ido às olimpíadas de astronomia, ainda teve o atrevimento de perguntar se eu sabia fazer cartais astrais...



pff...

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

«"I know that astrology isn't a science," said Gail [Gail é uma astróloga, já agora]. "Of course it isn't. It's just an arbitrary set of rules like chess or tennis or - what's that strange thing you British play?"
"Er, cricket? Self-loathing?"
"Parliamentary democracy. The rules just kind of got there. They don't make any kind of sense except in terms of themselves. But when you start to exercise those rules, all sorts of processes start to happen and you start to find out all sorts of stuff about people. In astrology the rules happen to be about stars and planets, but they could be about ducks and drakes for all the difference it would make. It's just a way of thinking about a problem which lets the shape of that problem begin to emerge. The more rules, the tinier the rules, the more arbitrary they are, the better. It's like throwing a handful of fine graphite dust on a piece of paper to see where the hidden indentations are. It lets you see the words that were written on the piece of paper above it that's now been taken away and hidden. The graphite's not important. It's just the means of revealing their indentations. So you see, astrology's nothing to do with astronomy. It's just to do with people thinking about people.»
Douglas Adams, in Mostly Harmless

Como eu adoro citar os livros deste gajo... depois já não preciso de dizer muito mais (espero que os respeitáveis leitores deste blog saibam suficiente inglês para não ficarem chateados comigo por não perceber a citação).

Ah sim, e aproveito para referir que está a decorrer uma feira do esoterismo no Almada Fórum, onde várias senhoras ficarão felizes por prever o teu futuro das mais variadas maneiras (felizes não porque preveram o teu futuro, mas porque antes disso lhes deste 8 euros - sim, o preço pareceu-me ser uniforme).

Nota - lembrar-nos de falar com a s'tôra de Física para montar o telescópio e ir descobrir estrelas.

P. S.: Ah sim, não respondeste... mas afinal sabes ler cartas astrais? =P

5:09 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hm. Ali em cima a minha tentativa de parecer inteligente e escrever o nome do livro a usar HTML tags correu mal... o título do livro é Mostly Harmless. :P

5:11 AM  
Blogger G. said...

De facto não sei ler cartas astrais, mas por 8 euros a consulta é algo a ter em conta na minha futura aprendizagem.


WTF? VAMOS PASSAR OS PRÓXIMOS ANOS DA NOSSA VIDA A TENTAR DECIFRAR A ESTRUTURA DO COSMOS QUANDO PODERÍAMOS SIMPLESMENTE CRIAR UM ALGORITIMO MATEMÁTICO PARA FAZER CARTAS ASTRAIS E GANHAR 8 EUROS POR CADA BACANO QUE FICAR SATISFEITO QUANDO LHE DISSERMOS QUE ELE TERÁ UMA VIDA DE SUCESSO SE INVESTIR NOS SEUS RELACIONAMENTOS E TOMAR CUIDADO COM ENERGIAS MALIGNAS QUE LHE CERCAM?

adoro perguntas retóricas que já nem parecem perguntas ao fim do parágrafo de tão extensas que se tornam devido às minhas descrições eça-de-queirozianas que em vez de ilustrarem melhor a situação apenas aumentam o grau de dificuldade da leitura para fazer parecer que eu sou um homem muito inteligente e sensato no que digo e que consigo administrar vários raciocínios de uma só vez.

5:26 AM  
Blogger G. said...

É claro, esqueci-me do pormenor de que és um quitter e vais abandonar a física pela matemática.

Mas como dizem, "Mathmatics is locally isomorphic to theoretical physics"... Ao fim dos 5 anos a aturar congruências vais sentir saudades da física :D

5:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

Porque eu também consigo administrar vários raciocínios de uma só vez...


Sim.
E estranhamente ou talvez não, sinto-me feliz com isso. =P

5:31 AM  
Anonymous Anonymous said...

Aquilo era obviamente a resposta ao 1º comment. Em resposta ao 2º, não sei se vou. Está 50-50...

5:33 AM  

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