Saturday, November 25, 2006

vagabundos em omnipotência,
loucos varridos em sã consciência,
pérolas sujas e encrostadas
do cego manto da obediência;

Sou aquele que traz a paz - diz ele.
Sou aquele que traz a dor;
Sou aquele que traz a chama e castigo,
Sou aquele a quem devem louvor.

amargo desalento da rotina,
do ser que muito vê e não imagina,
indesejada felicidade aprisionada
da alma pura e em ruína;

E eu? Eu sou a miséria!
Sou a descrença e solidão incolor;
Sou o homem a quem ninguém chama amigo,
Sou aquele que nunca teve amor.

oh! utopia desajustada!
a este mundo não devemos nada,
para além ou aquém será justiça feita
com o perdão do senhor ou a lâmina de uma espada!

Eu, eu sou o poder! Eu, eu, e apenas eu.
Sou teu guia, teu mestre e teu aprendiz.
Sou a tua prisão, teu passado e teu destino,
Sou a doce ilusão que te faz feliz.

curiosidade? blasfémia, ofensa e pecado!
mal-dizeres e mal-pensares dum ser mal-amado.
em causa e dúvida não há escolhidos,
a casa da luz não acolhe um desorientado.

Sou a salvação,
o cavalgar do tempo que urge desesperado.
sou o doce vazio após o milagre do nada,
sou a repulsa ao inevitavel.

oh, do que nos vale lutar e gritar?
todos sabemos que é inútil questionar,
o mundo gira e nada liga ao nosso querer,
giremos com ele, não vale a pena querer mudar.

Quem és tu? Perguntou ela.
Sou o medo, fiel amigo e companheiro.
Ao teu lado ficarei, de grande ajuda serei,
e do rebanho alheio terás sempre receio.

Eu... Sou um homem!
As sete faces de um sonhador,
carcaça morimbunda no teatro de fantoches
e vivo os meus credos com fervor.



[11/2006]
André França

Sunday, November 05, 2006







e vejo e vagueio e relembro,
não sei se será saudade
ou uma transposição intemporal daquilo que foi felicidade
e plenitude e paixão e ardor ajedctivos inúteis.
oh, pudera eu voltar ao passado,
olhar para a cama desfeita e janela semi-aberta
o momento de perfeição coberto de pelos brancos de gato em roupas pretas;
poder tocar no futuro e deitar-me no presente
como se do eternamente se tratasse,
e num leve suspiro dum tardio acordar,
de um abraço perdido e de um beijo que ficou por dar,
dizer
que conheço o amor.

André França - 06/11/2006


0.
Não é solidão, é angústia,
saturação...
Sensação de estar preso e de querer sair,
de ter mil e uma coisas para contar
e ninguém para ouvir...
De estar sozinho numa núvem onde ninguém alcança,
e às vezes tentar descer, viver, aproveitar
e ver-me a cair para cima
como quem não estava no seu lugar

É querer construir um degrau maior
mas não ter bases onde apoiar
não ter uma núvem num andar superior
para poder me orientar
criticar
ensinar...

Sinto falta de um espelho
em cores negativas

I
Fartei-me de cores escuras,
de dúvidas, medos, angústias.
Sigo em frente como quem nada quis
e por nada querer,
tudo conseguiu alcançar.

Sigo sem ambições,
mas com objectivos...
Sem ânsia de chegar
mas com receio de ficar...
Porque sei que o presente
é a transição entre o passado e o sempre,
e por mais que olhemos para o passado
ele não olhará por nós.

Sigo sem orgulho,
mas com a cabeça erguida!
Porque acredito no que sei,
mas acredito ainda mais no que não sei
e no que virei a saber,
crio mais nas minhas dúvidas
do que nas minhas verdades.
Porque verdades são um estado estacionário
entre o que um dia foi dúvida
e um dia poderá a ser certeza,
e as dúvidas constroem caminhos
entre os mares da possibilidade,
longe de abismos dogmaticos

Sigo porque sei criticar-me,
sigo porque sou independente,
porque acredito, sobretudo, porque acredito em mim

II
Quero repetir
nesta montanha russa sentimental
quero subir novamente
entre euforias e tristezas
amores e desamores
permanece a sensação de que vivi
e soube ser
para além de existir

o azul ardente de um olhar que penetra,
o gélido rubro de um toque que aquece,
lábios que se tocam sob um vivo luar,
corpos que juntos se movem
no doce acto de amar...

a tristeza afogada de um Adeus indesejado,
a serena mágoa de uma memória inapagada,
uma imagem, um cheiro, sensação que não retornará,
lindas lembranças tortuosas
de algo que não se repetirá...

Onde está a beleza,
se não na efemeridade?
Se o agora para sempre durasse,
não seria agora,
seria um passado desdobrado em futuro
com gotas de alienação a contornar as margens do sentir

III
Um rio de felicidade, alegria descontrolada,
um ardor electrico de algo que não consigo explicar,
uma chama de sentimentos explosivos e destrutivos
mas ao mesmo tempo construtivos e criativos,
algo transitório, mas eterno em sua intensidade.

Os dedos tremem como se frio tivessem,
baloiçam loucamente, impacientemente,
os dedos q outrora enxugavam lágrimas de mágoas
agora formam o compasso duma dança psicadélica
só por esta demente euforia explicável,
que aidna sim permanece incontrolável.

E nas palavras vejo briquedos,
posso usa-las, agrupa-las, manipula-las
porque objectivas são monótonas, e estáticas, inúteis...
Mas na insanidade brilham no seu explendor,
na subjectividade fazem surgir um novo eu,
uma nova frequência inexplorada do meu ser,
novas portas para abrir, e novas formas de viver.

E os ruidosos sons de uma música cintilante
complementam-se numa explosão de sentimentos e vida,
o mundo gira, ganha cores, as palavras circulam
como se o tempo parasse para esta loucura enriquecida
por esta alienação, não querida,
mas desejada...

IV
Cintilam flashes luminosos
como ideias perdidas num mundo de emoções,
ilhas isoladas de alguém racional
que se perdeu nos prazeres das paixões...

Lá está uma ideia ou outra
ansiosa por socorro,
outrora uma concepção delineada da realidade,
agora fragmentos de alguém que não sabe o que quer ser
e não quer ser aquilo que sabe...

Na ansia de um espelho inverso,
sobra a imaginação, maior dádiva humana...
Separam-se as múltiplas personalidades de uma mente conturbada
e cada uma ganha vida, numa explosão exoenergética
que só liberta demência, conflictos, e conclusões incomopreensíveis...

Quando o silêncio é o melhor ouvinte,
grita-se para dentro
a espera que alguém oiça,
e ecoa o som de uma voz desesperada,
um desassossegao inexplicável,
os loucos desabafos
de uma mente conturbada...

V
Não, não quero deixar-me afogar...
Tanto a ver, tanto a conhecer, tanto a pensar...
Mas reina em mim um sentimento de imediatismo,
e tomo por amanhã uma incerteza
mais improvável do que possível
uma angústia que me conduz para um abismo
onde deposito pensamentos e sonhos e desejos e objectivos e obcessões e ambições e amores e a vida...
Porque o agora não é uma vida,
é apenas agora...

VI
As equações já não fazem sentido,
troco o real pelo que imagino
troco o racional pelos quadros que pintos
em palavras sem segmento,
em desabafos cheios de tormento...

Não sei de onde esta fúria provém
e não especulo onde terminará,
mas deixo-me guiar pelo agora
e espero para ver
onde isto culminará...

As palavras não me faltam,
linha após linha vejo o invisível
e sinto o que não existe,
mas se sinto, para mim existe...
E se existe e não existe,
onde está o real e irreal?

Já não consigo fazer a distinção
entre fictício e perceptível,
sinto os sentimentos a fluirem
e transformarem-se em sentido,
reflexões transformam-se em parabolas
num looping incansável que culminam no mesmo ponto,
o agora, aquele que me aprisiona...

VII
Não desejo parar...
mas quero
na luta entre duas faces de um ser,
quem ganha? ele mesmo?
Só sobram derrotas e cicatrizes...

Talvez lições, e a saudade da anestesia
e alienação...

encontrei o meu espelho,
esteve sempre dentro de mim...



André França - 29/12/2005